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Amaral Gurgel, definitivamente à frente do seu tempo.

10 de novembro de 2022

Quem foi Amaral Gurgel?

Visionário, a frente de seu tempo, inventor, sonhador… esses sãos alguns dos adjetivos que podemos dar a João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, ou simplesmente Amaral Gurgel.

Ele foi um dos empreendedores mais revolucionários da história do Brasil, um visionário que foi engolido pela burocracia e dificuldades do nosso país.

Trinta e quatro anos antes da empresa de Elon Musk apresentar o seu primeiro modelo Tesla com motor elétrico, Gurgel já mostrava ao mundo o seu próprio carro elétrico, o Itaipu, o primeiro carro elétrico da América Latina.

Amaral Gurgel foi o fundador da fábrica Gurgel Motores, com a proposta ambiciosa de produzir veículos 100% nacionais.

Nascimento e juventude

Amaral Gurgel nasceu no dia 26 de março de 1926 em Franca, cidade do interior do estado de São Paulo. Aos 18 anos, Gurgel entrou na escola politécnica de engenharia de São Paulo. Apaixonado por automóveis desde jovem, Amaral Gurgel tinha um sonho: criar um automóvel genuinamente brasileiro.

Quando tinha 23 anos e estava se formando em engenharia, apresentou para o seu professor e orientador do seu trabalho de graduação o projeto de um pequeno veículo de dois cilindros batizado de Tião. Esse foi o trabalho de conclusão do curso de Amaral Gurgel. O professor então respondeu que: “carro não se fabrica, se compra”.

Amaral Gurgel não acreditava nisso e confiava em seu sonho de produzir carros em território nacional.

Após se formar, Amaral Gurgel fez pós-graduação nos Estados Unidos. Por lá, além de estudar, ele também trabalhou em empresas do conglomerado General Motors.

O início de um sonho

Ao retornar ao Brasil, Amaral Gurgel criou a Moplast, empresa no qual fazia moldagens de plástico. Essa empresa foi criada em 1958. Após 6 anos, Gurgel deixou a companhia para seus sócios e fundou a Macan, uma revenda Volkswagen.

Já em 1969, Amaral Gurgel finalmente conseguiu criar sua própria montadora, denominada Gurgel Motores S/A.

O primeiro veículo produzido pela empresa de Gurgel foi um carro semelhante a um Bug, chamado Ipanema. Este carro utilizava chassi, motor e suspensão Volkswagen.

A promissora Gurgel Motores

Em 1973, foi lançado o Xavante XT, posteriormente nominado de Tocantins. Um dos diferenciais desse carro era a carroceria, feita de uma mistura de plástico e aço chamado de plasteel, tecnologia patenteada pela empresa na época. Já a carroceria era feita de plástico e fibra de vidro, material esse que se tornou uma espécie de marca registrada da empresa. A ideia era eliminar a corrosão que afetava os carros tradicionais. Isso dava mais durabilidade aos carros da Gurgel. Com design polêmico, o carro contava com um estepe acima do capô.

Esse carro era muito inovador para sua época, equipado com o sistema Selectraction, inventado pela própria Gurgel. Em síntese, esse sistema funcionava através de alavancas de freio de mão, no qual uma das rodas de tração era bloqueada e, consequentemente, a força era transferida para outra roda com mais aderência.

Definitivamente “À frente do seu tempo”

Visionário, Amaral Gurgel revolucionou o mercado em 1974 com um projeto pioneiro, o carro elétrico Itaipu, nome que fazia alusão a hidroelétrica de mesmo nome. O fato de pensar em um carro elétrico mostra o quanto Gurgel pensava a frente de sua época. O que hoje para nós ainda não é uma realidade consolidada, pois grandes empresas como a Tesla tentam inserir a ideia no mercado mais conservador, naquela época Gurgel já pensava nisso e criou o seu próprio carro elétrico.

Totalmente brasileiro. Esse carro poderia ser carregado em uma tomada convencional como qualquer eletrodoméstico.

Infelizmente, apesar de ter uma tecnologia inovadora e que eliminava o uso do combustível fóssil, o modelo Itaipu E-150 tinha um alto custo das baterias e autonomia reduzida, além de quebras constantes, o que fez com que o modelo rapidamente sai-se de linha, já que conseguiu clientes somente em concessionárias de energia.

Será que se Amaral Gurgel estivesse nos tempos de hoje a ideia teria emplacado? Não sabemos. O fato é que Amaral Gurgel realmente era um visionário, prevendo uma situação que hoje vemos como realidade.

Realização de um sonho e consolidação da marca

Finalmente, no dia 7 de setembro de 1987, Gurgel lançou seu tão sonhado carro totalmente nacional, o CENA – Carro Econômico Nacional. Anteriormente os seus carros eram produzidos com algumas peças que não eram brasileiras, porém, o CENA foi produzido com peças 100% nacionais.

Sendo um dos veículos mais famosos da marca, o CENA teve seu nome alterado para BR-800 devido a problemas judiciais. Idealizado pessoalmente por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel com o propósito de motorizar o país. A ideia era lançar um automóvel simples, acessível e de manutenção barata.

O nome fazia, simultaneamente, menção ao Brasil e à cilindrada de seu pequeno motor de 800 cm³, com dois cilindros e 32 cv de potência. Este, inclusive, era usinado pela própria Gurgel.

Assim como o antecessor XEF, o BR-800 tinha chassi tubular e carroceria em composto de fibra de vidro. O comprimento, de 3,19 m, era semelhante, mas havia espaço para quatro ocupantes, graças à presença de um banco traseiro.

O BR-800 teve um desempenho comercial relativamente bom até 1990. Naquele ano, o governo passou a praticar uma alíquota de IPI mais baixa para veículos com motor de até 1 litro devido a pressão das grandes montadoras.

A concorrência era muito difícil. A gigante montadora italiana Fiat logo lançou o seu famigerado e popular Uno Mille por um valor parelho ao do pequeno Gurgel, o que contribuiu para que em 1991 o simpático BR-800 saísse de linha.

Modelos produzidos pela Gurgel

A Gurgel Motores vendeu em torno de 40 mil carros durante os quase 25 anos em que funcionou. Durante esse período, a empresa chegou a exportar carros para vários países, como a Jamaica e o Panamá. Os carros sempre tinham nomes bem brasileiros, já que Gurgel era patriota e prezava pela indústria nacional.

O fim de uma era

Em 1994, a empresa faliu e fechou as portas definitivamente em 1996. Isso porque, como mencionamos acima, alguns anos antes o governo decidiu pela isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os carros que possuíam motores abaixo de 999 cm3.

Essa atitude do governo foi motivada pela pressão das grandes empresas que se sentiam ameaçadas pela Gurgel Motores. Ainda que revolucionária em muitos aspectos, a empresa sucumbiu diante das grandes como Fiat, Chevrolet e Ford que entraram com força no território brasileiro e foi demais para a empresa de Gurgel.

Atolado em dívidas devido a um recuo do governo que prometia apoio e isenções fiscais, fez com que a Amaral Gurgel um pouco antes realizasse diversos empréstimos contando com esse prometido apoio do governo que nunca aconteceu.

O sonho de Amaral Gurgel terminava depois de uma história patriótica, revolucionária, muito promissora e com mais de 40 mil carros vendidos.

Após o fim e morte

Depois que fechou sua empresa, Gurgel passou a atuar como palestrante, falando sobre como usar o empreendedorismo para realizar sonhos. Entretanto, poucos anos depois, descobriu que tinha Alzheimer. Em 30 de janeiro de 2009, Gurgel faleceu sem nunca ter realmente o reconhecimento que mereceu por ser o primeiro a ter a coragem de criar carros 100% nacionais, deixando uma legião de fãs e admiradores.

A marca Gurgel encontrava-se expirado no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) desde 2003. Em 2004, o empresário Paulo Emílio Freire Lemos adquiriu a marca pelo valor de R$850,00. A família Gurgel não foi consultada e por isso decidiu mover uma ação judicial contra o empresário. A atual Gurgel nada tem a ver com a Gurgel Motores S/A, sendo apenas o uso da mesma marca, portanto não deve ser confundida.

Reflexão

A Gurgel Motores marcou a história da indústria nacional e será para sempre lembrada por seus entusiastas e historiadores e por admiradores de um empresário que estava à frente de seu tempo.

É uma pena como diversos empreendedores brasileiros com muito talento e potencial não conseguem prosperar em nosso país.

Referencias:

https://autopapo.uol.com.br/